Nesse novo século, a sociedade vem passando por mudanças tecnológicas e ideológicas, bem como criando novas diferenciações sociais, em espaços de tempo cada vez menores. Por isso, não se pode deixar que essas mudanças apareçam e desapareçam sem ser analisadas, através de uma compreensão à luz da ciência da sociedade.
O surgimento da tribo EMO no cenário mundial é uma dessas novas mudanças na estrutura da sociedade. Proveniente de um gênero musical, essa ideologia transcendeu o contexto da música ao ponto de tornar-se um estilo de vida e, por isso, não deve ficar a par de uma análise sistemática sob o olhar da sociologia. Para isso, conta-se com uma gama de teorias e abordagens das quais escolherei a “teoria dos sistemas”, por sua capacidade de abranger em maior dimensão a totalidade da sociedade e suas interações.
Antes de desenvolver meu raciocínio, é preciso conhecer o conceito de tribo. De acordo com o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa de 2004, um dos conceitos para tribo é: “grupo com ocupações e interesses comuns, ou ligados por laços de amizade”. Uma tribo, então, compartilha de características semelhantes: gostos musicais, ideologias, jeitos de vestir, comportamentos, etc. Dessa forma, os EMO’s possuem um jeito peculiar de se vestir, de pensar e de se comportar, bem como possuem o mesmo gosto musical, podendo assim ser considerados como uma tribo.
Não abordarei com muita profundidade a influência da mídia na expansão da tribo EMO. Contudo, sabe-se que, pela capacidade dos meios de comunicação de massa de difusão institucionalizada de bens simbólicos a uma quantidade indefinida de interlocutores, o estilo EMO agregou um número impressionante de adeptos no mundo inteiro. E por a mídia modificar as formas de interação na sociedade, pessoas que a princípio não compartilhavam do mesmo ideal, tornaram-se EMO’s com o objetivo de aceitação e ascensão social. Sendo assim, a grande responsável pelo surgimento e crescimento dessa tribo é a mídia. O meu objetivo, contudo, é enfocar o movimento EMO como uma forma de diferenciação da sociedade.
Numa primeira parte, esboçarei um pouco da origem e trajetória desse movimento, de como este, de um estilo musical, evoluiu para um estilo de vida, tornando-se uma tribo. Depois, farei uma reflexão sobre a teoria dos sistemas e sua pertinência para a teoria da sociedade, como também apresentarei alguns conceitos importantes. Numa terceira parte, analisarei a sociedade como sistema e a relacionarei com essa nova ideologia, ou seja, o que a tribo EMO e a “teoria dos sistemas sociais” têm em comum. Por último, tentarei levantar algumas hipóteses do futuro dessa tribo, de como esta vai se estabilizar ou não no sistema social.
Ao final, acredito que poderemos compreender, além do movimento EMO, outros movimentos sociais provenientes da esfera da música como, por exemplo, o movimento Hippie, nos anos 70 e o movimento Funk, atualmente, no Brasil.
DE UM ESTILO MUSICAL A UM ESTILO DE VIDA: O SURGIMENTO DE UMA TRIBO
Origem: a música EMO
O termo EMO é a abreviação da expressão em inglês Emotional Hardcore (hardcore emocional) e foi dado ao estilo musical proveniente do punk rock. Surgida nos anos 80, em Washington DC, a música EMO, ou emocore, mescla o som pesado, característico do punk, com letras introspectivas e românticas. Conflitos com os pais, decepções amorosas, indignações com o mundo são os temas abordados nessas letras.
O estilo musical EMO surgiu através de bandas como Rites of Spring e Embrace, que tinham um som parecido com o punk original, mas com um ritmo um pouco menos acelerado e com canções mais emotivas. Bandas de hardcore já estabelecidas, como 7 Seconds e Scream, aderiram a esse novo estilo emocore, diminuindo o andamento, escrevendo letras mais introspectivas e acrescentando influências do rock alternativo da época.
Em 1982, o estilo EMO ganhou uma dinâmica calmo/gritado (quiet/loud) e as bandas EMO começaram a usar berros e gritos durante as apresentações, intensificando a música emocore. A partir de 1991, criou-se uma esfera caótica, com vocais abrasivos e passionais na música EMO. Com Heroin, Portraits of Past e Antioch Arrow, o estilo chega ao seu nível extremo.
A partir dos anos 90, depois da valorização do EMO como estilo de vida, surge o pós-EMO: desacelera as batidas rápidas características, abandona o punk distorcido em favor de calmos violões e usa letras muito mais românticas do que de protesto.
Características da tribo
Os adolescentes EMO’s têm entre 11 e 20 anos e para serem aceitos na tribo é preciso escutar música emocore. Eles misturam roupas pretas com estampas de desenho animado, botas punk, tênis rosa, colares de bolas, camisas justas, meias arrastão, presilhas no cabelo, cintos de rebite, piercings no canto do lábio, possuem longas franjas e pintam os olhos.
Falam sempre no diminutivo, trocam letras em conversas via Internet e chamam as amigas de “maridas”. Palavras terminadas em “inho” como amorzinho, lindinho, fofinho são constantes nas conversas EMO’s. Na Internet, maior veículo de disseminação desta cultura, frases como "Sabia que eu te amo?" se transformam em "Xabia q eu ti amu?".
Dão demonstrações explícitas de carinho, nas quais meninos e meninas se beijam, se abraçam em publico, seja com pessoas do sexo oposto ou do mesmo sexo. Aceitam a opção sexual dos outros sem preconceitos. Repulsam as pessoas violentas: qualquer tipo de agressão física é altamente reprovável entre os EMO’s, lutam por um mundo sem violência. Escrever diários, expressando seus sentimentos, angústias, dores é válido tanto para meninos como para meninas. O menino EMO é sensível e compreende as meninas, é capaz até de chorar por uma decepção amorosa, não tem vergonha de mostrar seus sentimentos.
Evolução e Preconceito
A cultura EMO disseminou-se inicialmente através das bandas de emocore do cenário punk de Washington DC. Essas além de possuírem um repertório exacerbadamente romântico, tinham um jeito característico de se vestir: roupas escuras e franjas para eles, colar de bolas e presilha no cabelo para elas.
Muitos adolescentes que compartilhavam dos problemas retratados nas canções dessas músicas e gostavam da melodia que estava sendo empregada, adotaram o mesmo estilo de vestir dos seus ídolos, como forma de exteriorizar e compartilhar seus sentimentos.
Por essa mesma razão, os adolescentes EMO’s expressavam suas opiniões, sentimentos e problemas através daquela que se tornou o principal meio de disseminação da cultura EMO: a internet. Com blogs e fotologs (diários virtuais), e através do orkut, esses adolescentes encontraram outros e mais outros que compartilhavam das mesmas idéias, aumentando ainda mais o número de adeptos com a mesma forma de vestir, de pensar e de se comportar, dando origem, assim, à tribo EMO.
Quando esse movimento tornou-se grande o suficiente para atrair a atenção dos outros meios de comunicação de massa e quando as bandas de emocore tornaram-se famosas, ou seja, migraram do underground (desconhecido) para o mainstream (grande público), a tribo EMO atingiu o seu auge.
Contudo, a entrada no mainstream é uma faca de dois gumes: ao passo que a tribo EMO adquiriu novos adeptos, também emergiram aqueles que repudiam os atos ditos EMO’s. Na internet se difunde grande parte do conteúdo contra a cultura EMO. Sites como o youtube, divulgam vídeos do tipo “How to be EMO”, “The day of an EMO”, em tom de chacota ao lifestyle. O orkut já possui mais de mil comunidades do tipo “Eu Odeio Emo”, “EXERCITO ANTI-EMO”. Também muitos EMO’s, por fazerem demonstrações públicas de carinho e por aceitarem a opção sexual do outro sem preconceitos, são alvos de homofobia (preconceito contra os homossexuais) e violência. Lojas em shoppings proíbem a entrada dos EMO’s, afirmando que esses afastam os outros consumidores. A Revista MAD, conhecida por sua irreverência e ironia, em setembro de 2006 colocou na capa a seguinte manchete: “Nesse número nós detonamos essa praga maldita do século XXI... EMOS GAYS”.
O que pode acontecer à tribo EMO? Agora que a tribo já se consolidou como tal, não haverá mais tamanha especulação da mídia sobre ela. Assim, é provável que a tribo EMO se mova para fora do mainstream: surgirá um novo estilo musical ou uma nova variação da música EMO que fará com que a mídia desloque sua atenção para longe dessa tribo. Assim, haverá aqueles indivíduos que são EMO’s, que compartilham as mesmas idéias e que continuarão a pertencer à tribo não mais tão visada, e haverá os que aderirem à nova tendência, que provavelmente emigrarão da tribo EMO e criarão uma nova.
Uma reflexão sobre a teoria dos sistemas: o conceito de sociedade
A teoria dos sistemas passou por inúmeros desenvolvimentos desde que foi concebida e é importante para que se compreenda o mundo de uma maneira mais organizada, que reduza sua complexidade. O desenvolvimento que usarei, compatível com a temática da tribo EMO, é o de Niklas Luhmann: dos sistemas autopoiéticos operacionalmente fechados.
A sociedade como sistema
O sistema não é propriamente um tipo de objetos, mas sim, uma diferenciação.
Um sistema é a forma de uma diferenciação, possuindo, pois, dois lados: o sistema (como o lado interno da forma) e o ambiente (como o lado externo da forma). (Niklas Luhmann em “O conceito de sociedade”)
Um é tão importante quanto o outro para que, juntos, constituam essa diferenciação, essa forma, esse conceito. Logo, tudo aquilo que se pode observar e descrever nessa forma ou pertence ao sistema ou ao ambiente. Todo o sistema é “autopoiético”, ou seja, tudo o que este produz é o próprio sistema, ele se auto-reproduz. Isso leva ao conceito de “fechamento operacional do sistema”, ou seja, tudo o que é produzido pelo sistema é assimilado por ele, não podendo operar fora de seus limites. Logo, a sociedade, por se autodescrever e auto-observar, é um sistema autopoiético e operacionalmente fechado.
O conceito de “acoplamento estrutural” denomina a relação de dois sistemas autopoiéticos, que precisam, para seu funcionamento da presença de outros sistemas. O ambiente não pode interferir no funcionamento do sistema, no que diz respeito às suas operações fundamentais, porém, este pode irritá-lo e estimulá-lo desde que suas inferências sejam entendidas, no sistema, como informação que possa ser assimilada. Sendo assim, o sistema independe do ambiente no que diz respeito à sua maneira de processar, mas depende do meio para que este, através de inputs e outputs, estimule o seu contato com outros sistemas e que ofereça os dados e constelações que servem como base de informação para o sistema.
Para que a sociedade, como sistema, seja autopoiética e tenha fechamento operacional, é necessária uma ferramenta essencial: a comunicação. O sistema se reproduz através de comunicações sobre comunicações, criando uma rede de conexões entre os elementos do sistema. Informação, mensagem e compreensão; somente quando esses três elementos estão combinados e sintetizados é que se dá a comunicação. Esta pode ser aceita ou recusada e cada evento comunicativo fecha e abre o sistema, tornando-o um mecanismo dinâmico, definindo a trajetória da história através dessa bifurcação do sistema, entre aceitar ou recusar.
Através do conceito de comunicação pode-se perceber a sociedade como um mecanismo que se autodescreve e se auto-observa. Só as redes de comunicações possibilitam colocar em dúvida informações, recusar aceitação, normatizar comunicação permitida e não permitida, etc. Toda a comunicação da sociedade está condicionada à própria sociedade.
A sociedade é o sistema abrangente de todas as comunicações, que se reproduz autopoieticamente, na medida em que produz, na rede de conexão recursiva de comunicações, sempre novas (e outras) comunicações. (Niklas Luhmann em “O conceito de sociedade”)
O conceito de sistemas também vale para os sistemas cognitivos, produtores de conhecimento. Estes não podem usar suas próprias operações para entrar em contato com o ambiente, produzem a informação autopoieticamente, ou seja, produzem-na e utilizam-na. O ambiente não interfere nessas operações, mas irrita o sistema, apresentando informações de modo que sejam codificadas pelo sistema, aumentando, assim, sua irritabilidade, estimulando-o para novos processamentos de informações.
No sistema, não há nenhuma representação do ambiente (assim como ele é). Há somente construções próprias do sistema. (Niklas Luhmann em “Por que uma teoria dos sistemas?”)
Ao comunicar-se, o sistema transforma a informação criada em mensagem. Essa mensagem é, necessariamente, a auto-referência da comunicação, e a informação pode designar sua própria referência como referências externas. Vale ressaltar também, que por terem a mesma forma de processar (através de comunicações), os sistemas cognitivos e os sistemas sociais realizam um acoplamento estrutural: comunicação, ferramenta pela qual os sistemas sociais processam suas informações, não é possível sem a presença de sistemas cognitivos.
TRIBO EMO E TEORIA DOS SISTEMAS: O QUE TÊM EM COMUM?
Um estilo musical pode ser considerado um sistema, criado através de inputs e outputs de outros sistemas que realizaram acoplamentos estruturais para formá-lo. Isso remete ao caráter autopoiético e operacionalmente fechado dos sistemas sociais: tudo que aparece de novo no sistema é criado pelo próprio sistema, os processos que se realizam no sistema provêm autopoieticamente, nenhuma operação do sistema pode ocorrer fora de seus limites. No caso do estilo musical, esses acoplamentos estruturais estão contidos em um sistema maior que é a música. Para o estilo musical EMO não é diferente: o sistema do estilo musical punk rock, o sistema do estilo musical rock alternativo e o sistema do estilo musical das canções românticas fizeram acoplamentos estruturais e formaram o “sistema do estilo musical EMO”.
Como pertencente ao sistema social, a música, bem como os estilos musicais, operam e reproduzem-se através de comunicações sobre comunicações. Para que o sistema social opere, é necessário que esse realize acoplamentos estruturais com os sistemas cognitivos, que compartilham dos mesmos processos: as comunicações. Assim, para que o sistema do estilo musical EMO opere, é necessário que este faça inputs e outputs com os sistemas cognitivos.
Os sistemas cognitivos que, antes de realizarem acoplamentos estruturais com o sistema do estilo musical EMO, já haviam feito esses acoplamentos com o sistema da moda ou do jeito de vestir, fizeram com que o sistema do estilo musical EMO fizesse acoplamentos estruturais com o sistema da moda, criando assim a “moda EMO”: roupas escuras, maquiagens pesadas, um visual agressivo, que possuía relação com o estilo musical e os conteúdos retratados na música EMO.
A seguir, a “moda EMO” e o “sistema do estilo musical EMO” fizeram ainda mais acoplamentos estruturais com o sistema da linguagem – modificando os signos e códigos lingüísticos – e com o sistema do comportamento – transformando as formas de interação entre os indivíduos EMO’s. A partir daí, esse novo sistema foi abrangendo mais e mais áreas, fazendo mais e novos acoplamentos, até mesmo com o sistema da ideologia – trazendo à tona o romantismo, a expressão dos sentimentos sem limites. Quando o sistema comercial e econômico se deu conta do surgimento desse novo sistema, ou seja, quando o considerou como nova informação capaz de ser processada, fez novos acoplamentos estruturais, criando novos produtos para o uso do público EMO. As próprias instituições da mídia, ou melhor, o sistema dos meios de comunicação de massa, fizeram acoplamentos estruturais com esses outros sistemas, visto que foi através dessas instituições, processadoras de informações e difusoras de bens simbólicos a indeterminados receptores, que as bandas EMO ficaram conhecidas, bem como a “moda EMO” e os outros sistemas transcenderam à esfera pública da sociedade.
Da inter-relação entre esses sistemas – sistemas cognitivos, estilo musical, moda, linguagem, comportamento, ideologia, comércio e economia, meios de comunicação de massa, etc., uns em maior ou menor intensidade que outros – surge a “tribo EMO”. A tribo pode ser considerada um sistema autopoiético operacionalmente fechado. Todas as comunicações são produzidas pela própria tribo, as informações processadas restringem-se ao espaço interno da tribo. Aquilo que acontece exterior à forma da tribo não influi nos processos vitais desta, mas, como nos sistemas autopoiéticos, pode irritar e estimular novos processos da tribo, desde que seja aceito como informação capaz de ser processada. Na tribo EMO, o fechamento operacional é visível pelas formas singulares de se vestir, falar e comportar-se, informações muitas vezes mal interpretadas pelos outros sistemas cognitivos, gerando atos de preconceito e homofobia.
É importante salientar que essas comunicações que circulam são características dos sistemas sociais. Dessa forma, todos esses sistemas inter-relacionados pertencem, ou melhor, são subsistemas de um sistema mais abrangente: a sociedade. Também, deve-se ponderar que os sistemas não podem ser considerados unívocos, isolados dos outros. Portanto, esses acoplamentos estruturais entre sistemas, além de não aconteceram em uma ordem cronológica, ocorreram de maneira cíclica e plural.
O FUTURO: O QUE PODE ACONTECER?
Como sendo um sistema autopoiético, a tribo não mudará sua forma de operar e, sendo assim, não deixará de existir. Entretanto, haverá aqueles sistemas cognitivos que farão novos e mais acoplamentos estruturais e formarão uma nova tribo.
De um lado, portanto, haverá os sistemas cognitivos que, mesmo com novos acoplamentos estruturais (novos estilos musicais emergentes, novas vestimentas, novas ideologias), se manterão na tribo EMO. Isso dependerá da intensidade do acoplamento estrutural (ou da quantidade de informações trocadas através de comunicações) feito com o estilo musical ou com a ideologia ou com os outros vários subsistemas. Portanto, quanto mais o indivíduo intitulado EMO se identificar com os subsistemas presentes no sistema da tribo EMO, menor será a probabilidade de ele fazer novos inputs e outputs com outros ao ponto de diminuir essa intensidade ocasionando o que, na prática, chamamos de “saída do indivíduo da tribo”.
Sendo a tribo um sistema dinâmico, através de inputs e outputs os sistemas cognitivos e até mesmo os outros sistemas que fizeram acoplamentos estruturais para formá-la, poderão fazer novos acoplamentos estruturais e formar uma nova tribo. Os sistemas cognitivos presentes na tribo EMO poderão fazer concomitantemente outros acoplamentos estruturais com outros sistemas, podendo diminuir assim a intensidade do acoplamento estrutural feito com todos esses outros sistemas, ou seja, os indivíduos podem encontrar novos estilos musicais, novas maneiras de se vestir, novas formas de se comportar, diminuindo a intensidade dos acoplamentos estruturais feitos anteriormente, consequentemente, saindo da tribo e incorporando-se a outras. Também, os outros sistemas presentes na tribo EMO podem fazer acoplamentos estruturais com outros, alcançando novos sistemas cognitivos. O sistema econômico e comercial, por exemplo, quando os produtos EMO’s não estiverem mais gerando lucros (seu principal objetivo), as indústrias investirão em novas tribos, novos sistemas.
Um exemplo desse “rompimento” com a tribo EMO é o surgimento do novo estilo musical chamado de pós-EMO. Com uma intensidade maior no acoplamento estrutural que corresponde às canções românticas, esse novo sistema de estilo musical vem agregando cada vez mais indivíduos, na iminência do surgimento de uma nova tribo: os pós-EMO’s. A partir daí, ocorrerá novos e mais acoplamentos estruturais (da mesma forma que a tribo EMO foi criada) até surgir essa nova tribo.
CONCLUSÃO
Ao final dessa breve explanação sobre a teoria dos sistemas, acredito que se poderá compreender um pouco mais a tribo EMO como uma diferenciação do sistema social.
A tribo EMO, portanto, pode ser considerada um sistema autopoiético operacionalmente fechado: tudo que está a processar dentro di sistema é próprio do sistema e todos os processos internos ao sistema restringem-se ao limite do sistema. O ambiente não interfere nesses processos, mas pode irritá-lo e estimulá-lo a fazer acoplamentos estruturais com outros sistemas. Esse caráter autopoiético é notório, na prática, através das características observadas nessa tribo, bem como o caráter operacionalmente fechado se observa na diferenciação entre um indivíduo EMO e um não-EMO. Os acoplamentos estruturais dão à tribo um caráter dinâmico, visto que esta “evolui” ao longo do tempo, acrescentando novas características e criando novas comunicações.
Também, vale salientar que os acoplamentos estruturais feitos para formar a tribo, bem como os feitos para modificá-la não ocorrem de uma forma linear e ordenada, como um “processo”, mas sim, de uma forma cíclica e concomitante, ou seja, inúmeros processos podem acontecer ao mesmo tempo e até repetidamente. Mesmo que a intensidade do acoplamento estrutural realizado por dois ou mais sistemas diminua, estes terão sempre uma ligação. Isso nos faz perceber que a sociedade, o sistema maior onde os sistemas das tribos estão englobados, é um emaranhado de sistemas autopoiéticos operacionalmente fechados, bem como seus subsistemas, ligados de alguma forma, com maior ou menor intensidade, através de inputs e outputs sob a forma de comunicações.
Nessa pesquisa, usei como ponto de referência a tribo EMO, na esfera da música. Pode-se muito bem usar a mesma análise para compreender outras diferenciações da sociedade, outras tribos, provenientes da música: os “hippies” nos anos 70, os “grunge” nos anos 80, os “metaleiros” (apreciadores de Heavy Metal), os “rappers” (rap), os “punks” (punk rock), os “góticos” (Gothic Metal), os “clubbers” (música eletrônica) e os “funkeiros” – tribo emergente atualmente aqui no Brasil. Também, pode-se, sem problema algum, transcender a esfera da música e aplicar essa análise às outras tribos dos outros domínios da sociedade: os esportistas (os jogadores de basquete, futebol, skatistas, surfistas,...), os profissionais liberais (os médicos, os advogados, os professores,...), os artistas (os músicos, os atores, os dançarinos,...), os “trabalhadores” (as empregadas domésticas, os taxistas, os garçons,...) e assim por diante. Esse, então, é o objetivo da teoria dos sistemas aplicada à sociedade: abranger o máximo de diferenciações sociais possíveis.
A partir dessas considerações, podemos “descomplicar”, ou melhor, diminuir a complexidade do mundo que nos cerca. Em relação à tribo EMO, conseguiremos compreender com mais clareza o seu surgimento e desenvolvimento como uma diferenciação social, característico da capacidade intelectual humana, para conseguirmos acabar, pelo menos em parte, com os preconceitos e a homofobia gerados em relação a essa tribo.